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Empreendedorismo até debaixo d’água

Empreendedorismo até debaixo d’água

Noé é um daqueles filmes que facilmente encontram descrédito e ceticismo entre os fãs de cinema, que tendem a julgar a história pelo título ou capa, ou pela pouca intimidade que têm com o assunto. O filme é muito bom, recheado de emoção, com atuações excelentes de Russell Crowe, Emma Watson e Jennifer Connelly. Mas é, sobretudo, uma aula valiosa de empreendedorismo e gestão de pessoas, para quem consegue enxergar.

Personagem de capa, de costas, em penhasco diante de ondas gigantes e redemoinho no mar.

Mesmo guardando relação positiva com temas religiosos e conseguindo enxergar algo de positivo em todas as religiões, confesso que fiquei receoso em como iriam destrinchar essa história, que de tão fabulosa e longínqua, mal conseguimos imaginar como se deu, se é que se deu. A maioria de nós acha que é “história pra boi dormir”. Sendo ou não verdade, de tudo pode-se tirar algo de proveito. Chegará o dia em que a ciência e nós, limitados que somos, teremos capacidade de explicar o que ainda não pode ser explicado. E isto, na realidade, é um motivo a mais para ver o filme, porque ele foi muito bem pensado e executado, levando-se em conta o víes miraculoso da história. Entretanto, o foco deste texto é apresentar a você as lições preciosas de empreendedorismo e gestão que podemos tirar da incrível jornada épica de Noé.

Vejamos:

  • LIDERANÇA – Líderes são facilmente identificáveis por bons gestores, seja de pessoas, seja de processos. São pessoas proativas que não esperam que algo aconteça – elas têm a centelha que gera a força para o movimento de partida, tomando a frente dos processos e abrindo o caminho do entendimento para as outras. Assumem a postura de guia e, geralmente, têm consciência do papel que precisam desempenhar no mundo, levando os outros a desempenharem seus próprios papéis. E com Noé não foi diferente. O Criador (CEO/gestor) identificou em Noé (líder/colaborador) os atributos necessários para condução do processo de purificação do mundo, visto que a humanidade, até aquele ponto, definhava em sua própria maldade. Noé, abriu o caminho do entendimento para a humanidade acerca dos planos do Criador para a humanidade e para o planeta. Só ele tinha a força e os valores internos necessários para tamanha empreitada e para começar um novo modelo de conduta (negócios) humana na Terra.
  • VISÃO – Enxergar o que os outros não enxergam. Empreendedores são pessoas capazes de ver o que ninguém mais vê, ou veem apenas parte. Noé, teve a revelação em sonho sobre o dilúvio e a construção da arca. Mas não foi apenas isso que o caracterizou como visionário. Ao caminhar com sua família pelas áreas devastadas pela humanidade, ele sabia que aquilo não resultaria em algo bom. Empreendedores são assim – naturalmente analisam rapidamente os elementos de um cenário organizacional ou mercadológico e são capazes de enxergar o que pode se dar à frente, sejam crises ou oportunidades. São bons xadrezistas, têm pensamento sistêmico e antecipam os movimentos futuros dos seus competidores e dos anseios do consumidor.
  • CRISE E OPORTUNIDADE – Você conhece um empreendedor ou gestor ao longe pela forma como ele reage às dificuldades. A maioria das pessoas é extremamente reativa – têm o ímpeto da combatividade e da agressividade quando ameaçadas. O empreendedor, visionário que é, enxerga na crise uma oportunidade instalada. Não se criam oportunidades. Oportunidades existem naturalmente em qualquer ambiente de crise. A oportunidade é a onda natural que espera o surfista para ser aproveitada em uma tempestade. Oportunidade é chance de uso e transformação em um cenário estático ou adverso. Não é por menos que as palavras crise e oportunidade, em Chinês, são compostas de dois ideogramas e têm em comum um deles – uma interseção. Noé, através da sua visão, viu a oportunidade que o Criador daria após o caos do momento presente, viu a oportunidade na dificuldade e a aproveitou desde o começo e entendeu que isso seria bom.
  • RISCO – Todo processo de mudança envolve risco de perda e é exatamente por isso que muitas pessoas não se lançam a mudanças, ao empreendedorismo. Perder a zona de conforto é, por si, aterrador, o que dirá perder o pouco que se tem. Empreendedores são pessoas que agem com risco calculado. Não é um arriscar por arriscar. É um risco que se corre sabendo, através da análise do cenário, que as coisas serão difíceis por um tempo, mas depois serão melhores. É a certeza que o navegador tem que após uma tempestade vem a calmaria. A tempestade não é algo eterno. É um evento para mexer com pessoas e cenários estáticos ou negativos. Noé sabia que o dilúvio era um risco de vida para si mesmo e para sua própria família, mas aquele risco era calculado, o que significa dizer que era previsto e aceito, por que seu gestor (o Criador) o apontou para a missão, sabendo de suas capacidades.
  • PARCEIROS (NETWORKING) – Noé tinha poucas pessoas ao seu lado, mas eram as pessoas certas para o trabalho e deu a elas tarefas condizentes com suas habilidades específicas, identificadas pelo seu olhar de líder. Ele aproveitou o melhor de cada um. Quando você não tem as pessoas certas ao seu lado, escolher entre as que você dispõe torna-se uma questão-chave, e isso só é possível quando você conhece bem as pessoas com as quais lida, mas para conhecê-las bem, você deve conhecer bem a si mesmo antes. Não é por menos que Sócrates, um dos maiores filósofos de todos os tempos, cantava esta pedra desde a antiguidade. “Conhece-te a Ti mesmo.”
  • PESSOAS E PROCESSOS Noé teve que gerir os interesses e características inatas de seus familiares para concretizar a obra. Falhou em alguns momentos, mas falhou acreditando estar fazendo a coisa certa, e se corrigiu quando se permitiu sentir compaixão pela fraqueza do outro. Empreendedores e líderes verdadeiros admitem o erro, até porque seus parceiros e liderados precisam desse exemplo de humildade. Segundo Abílio Diniz, ex-presidente do Conselho de Administração do Grupo Pão de Açúcar, um dos maiores varejistas que o país já teve – “empresas são gente e processos, processos e gente”.
  • AMOR, DISCIPLINA, COMUNIDADE – Para ser empreendedor, é preciso ter uma paixão motivadora que alimenta os dias futuros e que faça você acreditar que aquilo que faz tem uma razão de ser, e que trará algo benéfico para um ou para muitos. É trabalhar duro, disciplinadamente, sem deixar que nada tire você do foco, do objetivo, porque é a consistência que edifica os grandes trabalhos da natureza e da humanidade. 
  • GESTÃO DO TEMPO – Entender que o tempo é limitado para desempenhar certas atividades e é imprescindível colocá-las em evidência no momento certo para as pessoas certas. Essa é uma habilidade do empreendedor – algo como a hora da onda gigante perfeita em Nazaré (Portugal). Noé sabia que não dispunha de todo o tempo do mundo. O ação purificadora do Criador sobre a Terra era certa, a água era o remédio para um mundo sujo esgotado pelas atrocidades humanas, e o sinal do seu prazo final (deadline) seria quando começasse a chover. Tratou de começar logo o trabalho arregimentando o brio e as forças de seus familiares (colaboradores) e, ao primeiro sinal do recurso divino dado por seu avô Matusalém, tratou de dar início à obra e não parou até concluí-la.
  • FIRMEZA, PACIÊNCIA E RESILIÊNCIA – Noé não abandonou a ordem recebida pelo Criador diante do tamanho e da dificuldade de realizá-las. Quem dá a incumbência a um comandado/colaborador sempre deve dar os recursos mínimos para a realização do trabalho. E ele recebeu os recursos e sabia que o trabalho levaria muitos anos para ser executado. Apesar dos contratempos familiares, que também são muito corriqueiros em empresas familiares, Noé geriu os egos dos seus ajudantes com firmeza de ação, persistência na tarefa e resiliência ante às investidas do seu rival (competidor), que não queria que ele realizasse a tarefa de construção da arca e do salvamento dos inocentes – os animais. Se você reparar no display promocional do filme, Noé enfrenta a tempestade de frente.
  •  LEGADOSer constante e fazer com que seu trabalho sobreviva ao tempo é uma característica evidenciada em várias obras de grandes empreendedores mundo afora. Com Walt Disney, no entretenimento, Oscar Niemeyer, na arquitetura e Steve Jobs, na tecnologia da informação, era assim. Noé queria deixar aos herdeiros de sua empreitada, seus filhos e gerações posteriores a certeza de que o que fez era o que precisava ser feito e que havia um motivo maior e nobre por trás (causa). Qualquer feito empreendedor não pode perder de vista a necessidade da mudança e melhoria do cenário atual para as gerações posteriores. O empreendedorismo está diretamente relacionado a isso – mudança e melhoria de cenário estático ou adverso para as gerações posteriores.

Estas são apenas algumas das lições de empreendedorismo no filme. Para quem está atento, há sempre muitas lições não reveladas nas entrelinhas da comunicação. E você? Imaginava que Noé tinha tanto a te ensinar sobre empreendedorismo e gestão? Comente aqui e compartilhe se gostou.

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Respostas de 2

    1. Que ótimo que gostou! Há sempre algo sendo comunicado além do que os sentidos percebem, o que chamamos de meta-comunicação.
      Na terapia familiar sistêmica (Gregory Bateson), Bateson e sua equipe cunharam o termo nos anos 1950. Eles observaram que além da mensagem direta (conteúdo), havia sempre uma mensagem implícita que indicava como interpretar o que era dito.

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