
Li, há algum tempo, que a grande maioria dos nossos problemas está ligada à comunicação. Isso acontece porque nosso vocabulário é limitado — e essa limitação também nos impede de sermos bons solucionadores de problemas. Em outras palavras: muitas vezes não conseguimos traduzir em palavras a complexidade do que sentimos, pensamos ou desejamos.
Esse é um entrave real no mundo organizacional. Em inglês, idioma considerado o mais rico em número de vocábulos, existe um termo recorrente nas empresas: problem solver — o solucionador de problemas. A expressão está entre as soft skills mais exigidas pelo mercado de trabalho, de acordo com o Fórum Econômico Mundial.
E você? Em que tipo de solucionador de problemas se encaixa? O que usa mais as palavras, como o filósofo, ou aquele que parte direto para a execução, o famoso “mão-na-massa”?
O perfil mão-na-massa
A cada dia que passa, noto mais a presença e o valor dessas pessoas. São indivíduos práticos, dinâmicos, alegres, prontos para ajudar a qualquer momento. Se algo quebra, eles já se oferecem. Se surge um desafio inesperado, eles estão ali, de prontidão.
Esses solucionadores são os chamados pragmáticos. O verbo que os define é “fazer”.
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No ambiente corporativo, são aqueles que colocam projetos em pé com rapidez.
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Na vida pessoal, são os que não enrolam: resolvem o que precisa ser resolvido.
Claro, existe o lado B: a pressa, a ansiedade e a tendência a gastar energia em excesso, sem refletir tanto nas consequências. Mas sem eles, poucas ideias sairiam do papel.
O perfil filósofo
Do outro lado do ringue, de calções pretos, estão os “filósofos” — pensativos, introspectivos, analíticos. Para alguns, lentos ou até vagos; para outros, sábios e profundos.
A palavra filosofia, no entanto, é frequentemente mal compreendida. Certa vez, perguntei a uma colega por que ela dizia odiar filosofia. A resposta foi simples: “Porque não serve para nada”. Quando expliquei que “filósofo” significa literalmente aquele que ama a sabedoria, ela hesitou… mas não mudou de opinião.
Esse estigma é comum. Muitas palavras ganham conotações negativas com o tempo. Com filosofia não é diferente: há quem associe à preguiça, à enrolação, à perda de tempo. Mas a verdade é que sem pensamento crítico não há progresso.
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No trabalho, são os filósofos que investigam causas, sugerem novos caminhos e evitam que os erros se repitam.
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Na vida, são eles que refletem sobre consequências e propõem alternativas mais sustentáveis.
A sabedoria do meio
Aristóteles já dizia: “In medium virtus” — a virtude está no meio.
Talvez esse seja o segredo do verdadeiro problem solver: encontrar equilíbrio entre agir e refletir.
Se Deus (ou a vida, se preferir) nos deu uma mente pensante e mãos atuantes, foi para usarmos ambas de maneira equilibrada. A solução de problemas não está em escolher um lado, mas em unir os dois em harmonia.
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