Hoje me bateu uma dúvida cruel, meu caro leitor, você que acompanha aqui meus momentos de expressão, com questionamentos e exposições, que vão desde a realidade ao mundo ficcional do cinema. Pois bem, estava eu assistindo TV quando vi que uma nova minissérie está para entrar no ar em breve na TV a cabo – Oscar Freire 279. Mais uma história sobre uma jovem que decide virar prostituta, aproveitando a onda “Bruna Surfistinha”, figura vista e re-vista entre uma sopa e outra nos lares brasileiros. E isto pôs-me a pensar fazendo-me chegar a uma pergunta-chave: Que imaginário coletivo é este?
Na década de 80, Renato Russo perguntou “Que país é este?” em uma “música-hino” daquela geração. E o coro juvenil inflamado respondia: “É a porra do Brasil!”
Como se já não bastasse tudo o que temos que lidar para tentar viver uma vida minimamente sã, temos que lidar com a construção de um imaginário coletivo que teima em corporificar a primeira coisa que vem pela frente, dado à nossa imaturidade, de uma forma em geral, mas, sobretudo, ao desconhecimento quase total sobre o poder da formação do imaginário coletivo, suas possibilidades e reflexos. Entendo, claro, que a pergunta de Renato Russo suscitou uma reflexão válida na época, e que não podemos deixar de considerar. A resposta, essa de dar medo, anuncia fortemente o que nós pensamos, ou pensávamos até então, sobre o Brasil. Em outras palavras, “um nada, uma m….”, considerando alguns dos significados figurados da palavra “porra”. E isso me assusta porque, para pessoas distraídas, significa apenas explosão de raiva, rebeldia, etc. Tudo justificável em relação ao questionamento feito no momento político da época em que foi lançada – a virada do resquício do regime ditatorial no Brasil para o estabelecimento da democracia -, mas para os que vêm através dos véus do ordinário, há com o que nos preocuparmos, na minha opinião.
Voltando à questão inicial, a nova minissérie Oscar Freire 279, que é um endereço na cidade de São Paulo onde passa a “atender” a protagonista da história, traz à tona uma das facetas do nosso imaginário coletivo – a prostituição entre graduandas e graduadas. Fomentada majoritariamente pelos homens e exercida também majoritariamente pelas mulheres, a prostituição é um pântano criado pela sociedade para seu autoextermínio, com a chancela do governo; uma flor deslumbrante e sedutora, mas de veneno letal; uma força colossalmente alimentada por ambos os sexos, que gera uma energia igualmente tão descomunal que vai, aos poucos, abrindo um buraco negro na base da sociedade, minando pouco a pouco a estrutura social do país e sugando para si jovens iludidos, atraídos que são pelas pequenas e ilusórias sensações do corpo, como mariposas o são para uma luz qualquer no escuro. Para alguns, universitária virou sinônimo de prostituta de luxo. Veja o quão infeliz para uma sociedade isto é, porque as mulheres só conseguiram conquistar o direito de voto na década de 30 e, agora que conquistaram e que começam a inundar as faculdades com a grande promessa de se tornarem pessoas melhores, ajudando na construção de uma país melhor, rendem-se ao clamor sócio-midiático para a prostituição. “Sócio”, porque se rende ao homem ou mulher que a contrata, e “midiático”, porque é instigada, incitada pelo apelo dos meios de comunicação que exploram a imagem do corpo e do desejo sexual. Não é preciso provar nada do que falo, está tudo exposto para todos verem, seja nas telenovelas, na internet, revistas ou cinema. Mais uma vez, os responsáveis pelos meios de comunicação se mostram irresponsáveis como nunca, e o governo, conivente como sempre o é.
Na década de 60, tínhamos a geração “sexo, drogas e rock n’ roll”. Na década de 80, tínhamos a geração “sexo, drogas e rock n’ roll e AIDS”. Nos anos 2000, tivemos a geração “sexo, prostituição, drogas, AIDS e depressão”, e nos anos 2010 estamos vivenciando a geração “sexo, prostituição, drogas, AIDS, depressão, síndrome do pânico e solidão (Geração FACEBOOK)”.
Aí eu lhe pergunto: “Que imaginário coletivo é este?”
Boa segunda-feira para você também e um ótimo imaginário coletivo.
Eu achei óóótimoo tudo que li!!!!
Que bom, Margareth. Fico feliz! Multiplique, se achar que convém. Abraço!