Letras do Tempo | Blog do João Viegas

Conte-me aqui uma coisa, estimado leitor. Imagine que você esteja numa piscina bem legal, graaaande, água quentinha de fim de tarde (nada de xixi), e seu amigo(a) fala assim:

_ Vão vê quem aguenta ficá mais tempo sem respirá debaixo d’água?
_ Vão!
_ Êeê, tão tá! Um, dôlaci, vamozi, iii…
_ Não burro(a), cê foi primeiro!
_ Tá, foi mal, de novo, de novo! Uuum… doiziii …huuuupp! Já!”  

Tá prendendo o ar aí, leitor? Acompanhe. E lá se vão alguns longos, tenebrosos e angustiantes… o quê?…23 segundos? E depois, o que acontece? Saem da água como se fossem engolir o ar do mundo, não é mesmo? Engasgam e tossem (“bost…iguli, água, coff, coff!”), cabelo nos olhos, tonteira e falta de ar temporária. E uma necessidade doida de puxar o ar e colocar a respiração no ritmo normal, não é?

É isso. Você acaba de experenciar o porquê do surto moralizante que vem acontecendo no Brasil, no qual as pessoas têm demonstrado tanta ânsia, vigor e ferocidade contra as práticas recentemente expostas na mídia, como “Rafinha Bastos e o bebê de Wanessa Camargo”, “Estupro no BBB12”, “Luíza que tá no Canadá”, Ai Se Eu Te Pego (Michel Teló), “Rafinha Bastos e a piadinha contra a APAE”, “Léo Burguês querendo aumentar os salários dos vereadores em 61,8%, desapropriação indevida aqui, prédio caindo dali, boeiro estourando, estádios de futebol de zilhões de reais, malandro com maquininha de engalobar gasolina na bomba, farsa da grávida de quadrigêmeos, marcha do orgulho hétero, do orgulho gay, do orgulho de ter orgulho do próprio orgulho, S.O.P.A.”, e tudo o que, teoricamente, na cabeça da pessoa, ou não seja bom pra ela, ou não traga valores representativos para a sociedade. 

Em minha humilde opinião, é uma questão de repressão e abstinência. Vou explicar dando um outro exemplo prático: vamos supor que te forcem, ou que você se force, como um teste, a ficar sem comer, beber, fazer nº 1, nº 2 … (vixe!), ficar sem sexo, ou ficar sem fumar e beber, caso seja uma prática sua de longos tempos, ok? Nada de linguicinha com cerveja e azeitoninha, nada de xixizinho, nada de feijoada, fazer pum também não pode, nem pensar. Nem rapidinha, nem demoradazinha, esqueça. Você está ali, pra matar alguém, ou se matar, de tanta vontade de comer um “creme craquizinho” que seja, um pão com “mortandela”, ou simplesmente fazer um danado dum xixi que você precisa fazer há 2 intermináveis dias, com seu rim parecendo uma jaca, de tão cheio. O que acontece? Você vai fazer muito xixi, num vai leitor? Vai comer muito, vai botar uns 5 cigarros de uma vez na boca pra fumar, vai “desligar a televisão em casa e tirar o atraso”, hein, hein? Num vai? Ah, vai! Abriu a porteira, o gado passa jogando tudo no chão mesmo.

E assim somos nós depois de muito vermos a corrupção, a discórdia, o fútil e o produzido para manipular. A gente quer mesmo é dar um basta às coisas, dar vazão ao sentimento de repressão que foi instalado, contra ou com o nosso consentimento. A gente quer mostrar para o mundo que não aguenta mais uma determinada situação. Só isso.

O surto moralizante que tem sido percebido, principalmente nas redes sociais, o excesso de politicamente correto sobre o politicamente incorreto, tudo isso, pode ser explicado se observarmos a abstinência daquilo que é bom para a sociedade, ou do que é correto a se fazer – o momento em que vivemos como um todo. Nós permitimos os outros, e nos permitimos, que falassem e fizessem o que quisessem e ficamos de biquinho fechado por muito tempo. Não foi? Foi, ué! Tá aí você de prova. Liberdade de expressão é outra coisa. Mas, nem tudo está perdido, você que não tolera mais as pessoas e seus ataques moralizantes antiBBB, antiLuiza, antipiadinha imoral, antimensagens edificantes no Facebook, antitudo, anticéticos (não confunda com antisséptico… haha). Sorria, entre dois extremos há o meio. Daqui a pouco, todo mundo encontra o seu ponto de equilíbrio na respiração e no trato com as coisas da vida. Não precisamos nos apressar, mas também não podemos ficar boiando.

Respostas de 6

  1. Gostei, João. Acho que sua tese faz muito sentido.
    Estou pensando aqui que estamos falando de um movimento parecido com o de um pêndulo, oscilando entre dois extremos, mas com uma tendência de atingir o equilíbrio no centro.
    Beijos

  2. Concordo João… estamos vivendo mesmo um surto… Contudo, em minha humilde opinião, nesse caso o excesso é um pouco melhor do que a ausência.

    1. Filipe, difícil dizer se o excesso é melhor do que a ausência, mas eu entendo o seu pensar e concordo que seja para algumas coisas. Tudo é tão relativo, né? O que é muito pra um, é pouco pra outro e por aí vai. A questão é: somos imaturos. Não é possível que descubramos o caminho certo de cara, o erro é natural. Do contrário, já seríamos perfeitos e não teríamos esse tipo de problema e nem a evolução existiria. Estaria tudo pronto. Abraço e obrigado pela leitura.

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