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Entre a menos-valia e a vaidade

Entre a menos-valia e a vaidade
Moedas espalhadas saindo de um pote de vidro, simbolizando valor e reconhecimento.
Foto de Josh Appel na Unsplash

O valor real das coisas — e de nós mesmos — é tão vital quanto comer ou respirar.
Na economia, menos-valia é a perda que ocorre quando um ativo é vendido por menos do que custou. Se você comprou um carro por 100 e o vende por 80, houve depreciação. Mas esse conceito vai muito além das finanças.

Na vida humana, a menos-valia aparece quando deixamos de produzir, de agir, de interagir. Sem resultados, deixamos de receber o retorno do mundo sobre nosso impacto — e passamos a acreditar que valemos menos do que realmente valemos. É como se nosso impulso natural de realização cristalizasse.

Na outra ponta está a vaidade: a supervalorização do que pouco importa. Excesso de exposição, busca incessante por validação externa, consumo desenfreado, prazer imediato. A palavra já revela sua essência: vã + idade = o tempo daquilo que é vão, sem valor.

Tanto a menos-valia quanto a vaidade representam o mesmo problema: atribuir menor valor àquilo que é essencial.

E esse dilema não é apenas individual. No ambiente de trabalho, por exemplo, estudos mostram que 64% dos colaboradores sentem que não são devidamente reconhecidos (Gallup, 2023), o que gera desmotivação, perda de engajamento e aumento da rotatividade. Por outro lado, a superexposição em redes sociais corporativas pode criar culturas superficiais, baseadas mais em “likes” do que em resultados.

No meio disso está o que chamei de re-significação — e que hoje o mercado traduz em termos como propósito, EVP (Employee Value Proposition) e cultura de reconhecimento. Não se trata de modismo, mas de dar valor ao que realmente importa: alinhar o que a empresa oferece (propósito, oportunidades, ambiente) com o que as pessoas buscam (sentido, desenvolvimento, pertencimento). Quando esse alinhamento acontece, o risco da menos-valia — o sentimento de ser apenas um número — diminui, e a armadilha da vaidade — a exibição de conquistas vazias — perde força. O resultado é uma cultura mais equilibrada, em que o reconhecimento não é só formal, mas parte da experiência diária de cada colaborador.

Encontrar esse meio termo é aprender a re-significar o valor real — do trabalho, das relações, das escolhas. É reinventar nosso “coeficiente pessoal de atribuição de valor”, identificando o que realmente importa.

Quando conseguimos re-significar, encontramos o que os antigos chamavam de caridade. Não como assistencialismo, mas como caro + idade: o tempo dedicado àquilo que é caro, precioso, essencial.

Na vida e na gestão, esse é o ponto de equilíbrio: entre a perda de sentido (menos-valia) e a ostentação vazia (vaidade), cultivar o que realmente tem valor.

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