
Quem mora ou trafega pela região noroeste de Belo Horizonte, mais precisamente nas redondezas que dão acesso aos bairros Jardim Alvorada e Vila São José, está se deparando cotidianamente com um cenário que nos remete às imagens da guerra vivida na Bósnia-Hezergovínia, Croácia e adjacências. Uma enorme área habitada está sendo destruída para dar lugar ao que no futuro será a conexão entre as avenidas D.Pedro II, Tancredo Neves e João XXIII, projeto patrocinado pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Muitas casas ainda estão de pé sustentadas pela persistência dos moradores, principalmente os mais antigos, que se recusam a se mudar para o conjunto habitacional construído naquela mesma região. Anteontem cedo, no caminho para o trabalho, parei e tirei algumas fotos para mostrar ao leitor o que se passa na região e para que cada um possa avaliar e refletir melhor. O assunto vem sendo reportado pelos veículos de comunicação e tem havido até manifestações em função da demora para a realização da obra, da sujeira, riscos de acidentes, doenças, indenizações, etc., mas isso vocês podem acompanhar na televisão, rádio e internet. Minha intenção aqui é outra – a reflexão por outra via; a de buscar um equilíbrio no entendimento das coisas através de uma visão macro, tarefa difícil para qualquer um de nós.

Quando vejo este caso, que é semelhante a tantos outros que ocorrem em função da necessidade de desenvolvimento e progresso, a primeira coisa que me ocorre é o que está acontecendo agora em Belo Monte, onde será construída uma usina hidrelétrica e causando um bafafá danado. Até escrevi um post aqui sobre isso. Mas, por mais dano que isso possa parecer estar causando a alguém que está “sofrendo” a ação da lei de progresso, ainda sim, prefiro enxergar como um “bem necessário”. E antes que conclusões precipitadas já possam surgir na mente do leitor achando que eu possa estar sendo insensível para com o problema dos envolvidos nesse processo, vou tentar explicar sucintamente o que acho, embora seja quase impossível porque o lado mais importante vou ter que deixar de fora por se tratar de minhas crenças espirituais , então trarei a minha amiudada visão da questão por vias mais concretas.
Entendo todos esses processos como processos de transformação positivos. Pergunto:
- Quantas pessoas serão desalojadas? Alguns milhares.
- Quantas pessoas serão realojadas? De acordo com a lei, todas. Se as leis não são cumpridas a culpa é nossa em não exigir fiscalização e execução plena dos projetos, não dos projetos.
- Quantas pessoas serão “””prejudicadas””” com o incoveniente da transferência? Alguns milhares.
- Quantas pessoas serão beneficiadas com a obra de conexão das vias? Com certeza muitos milhares.
Até aonde consigo enxergar, há equilíbrio relativo na questão, em função do que compete ao homem fazer. Nós, a sociedade, precisamos aprender a ver o “mal” com bons olhos para que as coisas se transformem e soframos menos. Nem tudo é do jeitinho que queremos porque ainda também não somos do jeitinho que o mundo e o Universo precisam de nós. A vida é uma via de mão dupla. As nossas relações ainda são muito imperfeitas – as de ordem material e, sobretudo, as de ordem espiritual. Todos temos resistência em mudar e nos agarramos ao que pudermos para evitar o sofrimento que travamos com o novo. Todos os moradores serão realojados pelas regras que sustentam o projeto, ou pelo menos aqueles que puderem comprovar que realmente adquiriram o que têm. Portanto, devemos lembrar que:
- O governo está dando outra moradia em condições de habitação;
- Em todo ajuntamento e ocupação urbana do tipo da Vila São José sempre há aqueles que apenas chegaram e ficaram, ocuparam ilegalmente se valendo da lei de Usucapião, que garante propriedade de terra se ocupada por mais de 10 anos (ou 15, extraordinariamente), comprovadamente e sem oposição do proprietário, e isso pode não ser o caso para muitos que lá estão há menos tempo.
Todos aqueles que agora dizem: “Ah, mas coitado, o pobre coitado não tinha para onde ir ou ficar.” Perfeito, expressão correta, se levarmos em conta apenas o nosso lado emocional. Também me apiedo do fato porque sinto o sofrimento pelos outros da mesma forma, através do coração. Entretanto, tentando equilibrar com a razão, podemos chegar a algo assim:
- Você já teve todos, absolutamente todos, os brinquedos, roupas, carros, casas, amigos, relacionamentos, refeições, viagens e trabalhos que queria? Na hora e do jeitinho que queria? Quem os teve? Ninguém.
Isto revela que todos nós ainda estamos submetidos a uma condição de espera, trabalho, aceitação e conquista. Todos temos que nos esforçar para termos e mantermos o que queremos e para aceitarmos e resignarmo-nos diante do que é maior do que nós e não pode ser mudado em determinado momento. Nós raramente chegamos à metade daquilo ao qual nos propusemos a conquistar. Há ainda uma questão muito maior que é a que realmente coordena tudo isso – a lei de evolução -, que tem inúmeras nuances, prerrogativas e dentro da qual todos estamos inseridos. Inseridos, não obrigados, afinal, evoluímos desde sempre, estamos sempre em movimento. Você já viu a Terra parar? Não. Mas já viu a Terra se adaptar! Sim. Adaptemo-nos, portanto, sigamos o exemplo de leis naturais que são muito, mas muito maiores do que nossa ínfima existência. Quando toda a bagunça gerada por essas construções, obras e reformas for limpa, os mesmos que reclamam serão aqueles que admitirão, mesmo que não publicamente, uma verdade Universal – a Lei do Progresso, que vem para todos, não importando se queremos ou não. Alguns poucos entre nós já esboçam querer se mover e se tranformar pelo amor, mas a grande maioria ainda só o consegue pela dor. No entanto, tudo está sob o olhar bondoso e misericordioso do Criador, que apenas cria, nada destrói.