Letras do Tempo | Blog do João Viegas

A Saga da Naftalina

Não, eu não comi naftalina achando que era bala MENTEX para escrever algo do gênero, embora possa parecer. É que outro dia eu estava pensando em estados… estados da matéria – sólido, líquido, gasoso… aquelas coisas. Ao mesmo tempo, estava pensando no que estes estados significam para o homem, fora da obviedade, e no como eles se apresentam em nossas vidas de forma sutil e no que podemos extrair de diferente disso. Foi aí que me caiu uma ficha que nem eu sei de qual orelhão veio – somos como a naftalina.

É o seguinte: Qual é o lance da naftalina? Matar baratas, traças e agregados. Este é o ponto 1. Agora, como é o ciclo de vida da naftalina? Aí é que está o pulo do gato, meu caro leitor desconfiado. A naftalina é uma substância geralmente comercializada em pastilhas, ou bolinhas, como queira, portanto no estado sólido. E o homem (ser)? Também, é uma cápsula sólida. Vem comigo…

Quando colocamos a naftalina em um cantinho de parede ou armário, ela começa a trabalhar. Só para lembrar, a naftalina é uma substância formada por anéis de benzeno, portanto volátil e com odor. O que acontece com a naftalina depois de um tempo? Desaparece! Hã! É, mas aos poucos, por ser volátil se evapora e, sendo aos poucos, ela sublima. Pronto, caro leitor, aí está o ponto 2. A nossa querida naftalina nos ensina valiosas lições:

Lição 1: Pense nas baratas, traças e bichinhos afins como os nossos valores negativos, nossos desejos fúteis ligados à superficialidade da vida, à materialidade passageira e pueril do dia a dia.

Lição 2: Pense que nós, para nos livrarmos de desejos sabidamente prejudiciais a nós mesmos, algo concreto como os provenientes da gula, da vaidade, da ira e da cobiça, que são substantivos abstratos mas de efeito bem concreto, temos que pensar 2, 10, 100 vezes antes realizar tal desejo.

O que quero dizer é que precisamos nos sublimar quanto aos nossos desejos negativos e infelizes sem realizá-los, sem torná-los concretos, parte de nós, porque aí estaríamos nos solidificando mais e mais com valores ligados a materialidade até alcançarmos a cristalização. O cristal é a prova cabal da paralisação do movimento. Temos de passar nossos desejos infelizes direto para o estado gasoso, pulverizando-os no etéreo sem levá-los ao real – uma tarefa para gente grande porque exige um esforço enorme, com grande perda de energia. Estou falando mentira? Você aí que luta para perder peso ou o hábito que gera o descontrole do peso, aquele doce todo dia, o “refri” todo dia, a cerveja, que luta para parar de fumar, etc. (“olha aí as baratinhas e traças internas”), você é prova do que falo, e quando consegue combater o seu próprio desejo, fala: “Ah, passou, graças a Deus, não existe mais.” Pelo menos naquele momento.

Nós, naftalinas em potencial, só damos conta de sê-las efetivamente se tivermos algo maior que o desejo: persistência e força de vontade. Esta remove montanhas maiores do que a de Maomé: exemplos existem. Nosso caminho é a sublimação de valores e atitudes infelizes e a aquisição de valores e atitudes felizes. Alguém ainda duvida disso? Pois é o que fazemos todos os dias quando nos ligamos a atividades (estudo e trabalho) e sensações (relacionamentos e família). Estamos sempre na busca do aperfeiçoamento, e como aperfeiçoar-se está ligado à ideia de elevação… elevação… gasoso… sublimou… cadê você? Nos vemos no etéreo!

Respostas de 4

  1. João, belo texto… ótima viagem!
    E olha que eu tenho “quase” certeza que vc não fuma nada hein!
    Sigo aqui lutando contra as minhas Traças e Baratas diárias… Êh coisa dificil!!!!

    1. Obrigado, velho. E pode ter certeza absoluta que não fumo…rs. Minha onda é muito diferente e muito melhor.
      É, fácil não é, mas ninguém falou que não seria difícil..rs Haja naftalina, porque tem barata e traça sobrando aqui tb. Abraço!

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